
O ambientalista são-luizense José Alberto Pinheiro Vieira é o presidente do Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Rio Piratini e tem presença constante nos assuntos relativos ao meio ambiente e sua preservação. Com a valorização dos recursos hídricos e a preocupação quanto à poluição e desperdício de água, ele fez uma análise do gerenciamento desses recursos no município de São Luiz Gonzaga e aponta peculiaridades e previsões para a qualidade da água dos rios e afluentes da região das Missões.
Em São Luiz Gonzaga, o seu trabalho de conscientização e preservação do meio ambiente é bastante conhecido. De onde surgiu o interesse no assunto?
Por volta de 1997, quando fui secretário de Administração de São Luiz Gonzaga, tive contato com eventos e atividades que ilustravam a crescente preocupação com os recursos naturais. Como na época o assunto era pouco abordado, comecei a pesquisar e coletar dados sobre a situação da fauna e da flora no município e região. Após analisar a falta de saneamento da cidade, nos deparamos com alguns problemas que atrasavam a sua instalação efetiva: além da necessidade de realizar um projeto detalhado para entregar para a concessionária dos serviços de água e esgoto, faltava educação ambiental junto à comunidade. Era comum avistarmos pessoas morando próximas a um arroio jogando dejetos nas suas margens.

Mas o que pode ter levado as pessoas a terem esse comportamento?
Uma das causas é, sem dúvida, a ocupação desorganizada do espaço. Há cerca de 50 anos, São Luiz estava em fase de desenvolvimento. A Prefeitura, na época, lançou uma campanha de expansionismo da área urbana, utilizando-se, para isso, de locais próximos ao leito de açudes, riachos e nascentes, hoje, conhecidas com Áreas de Preservação Permanente (APPs). Apesar da intenção, o desenvolvimento não ocorreu como o previsto, tornando essas áreas como periferias do município, onde, hoje, até a manutenção de vias públicas é rara. Eu notava isso quando trabalhava na Prefeitura: as pessoas chegavam com reivindicações de melhorias quanto ao abastecimento de energia elétrica e água. Porém, nunca exigiam o saneamento. E o saneamento básico, com o abastecimento do esgoto, é imprescindível para a qualidade de vida.
E a falta de saneamento nesses locais pode comprometer a saúde de seus moradores?
Se olharmos para as comunidades que vivem nas áreas pobres da cidade, constataremos que todos os locais são cortados por riachos e canais de transporte de resíduos, os chamados “esgotos a céu aberto”. Se examinarmos, grande parte das pessoas está com a saúde deficitária, pois é grande a incidência de desidratação, em decorrência de males advindos de água sem tratamento, além de vermes e contaminação por meio de pescados. Após estudos realizados no município, mapeamos o curso de rios e a vazão d`água de nascentes. Como todas as vilas e bairros foram construídos “recortando” esses cursos, a água encontra uma maneira de seguir seu caminho. Por isso, é normal encontrarmos locais completamente inundados em época de chuvas, em decorrência da grande concentração de cursos de água que se encontram e desembocam nos lugares mais baixos.
Como você, presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Piratini, avalia a questão da água no mundo? É provável que o Brasil se beneficie com a necessidade mundial pelo recurso, uma vez que o possui em abundância?
Essa questão é, no mínimo, curiosa. Sabemos que nosso país possui o sistema Guarani, o qual é constituído de alguns lençóis freáticos, como o Aquífero Guarani.
E por que não está sendo feita a venda desses recursos no Brasil para países mais pobres?
A venda massificada, que contaria com a extração feita por indústrias, ainda é cara, e, por isso, não compensaria sua exportação. Além do que, o equilíbrio natural seria afetado, pois estaríamos retirando o líquido de um local para outro, impedindo seu ciclo contínuo. Porém, somos conscientes de que isso pode acontecer. A água, com certeza, será a principal questão mundial a ser discutida nos próximos anos, e sua manutenção deverá ser feita com conscientização de nós, consumidores, e alheia a interesses financeiros. No entanto, sabemos que essa última questão já existe há muito tempo.
Por Emerson Scheis
Edição Gislaine Windmoller



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