quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Água: um bem abundante, mas não infinito

A água é um bem precioso para toda a humanidade, no entanto, este recurso natural não tem sido cuidado conforme sua real importância. As atitudes de grande parte da população confirmam este descaso, levando profissionais preocupados com esta situação a preverem uma iminente escassez.
O economista Oclides Deon, da cidade de Passo Fundo, realiza consultoria para sete municípios e, através de dados e justificativas, fala sobre a necessidade de medidas urgentes que visem a utilização da água de maneira sustentável.

Como economista, você acredita que a escassez de água pode ser um problema para nosso país, que tem cerca de 14% de toda a água doce que circula pela superfície da Terra?
Deon: Os problemas da água não atingem somente nosso país. Este é um problema que já está em escala global. Não há país no mundo que, hoje, não pense nas consequências que a escassez da água pode trazer. No território brasileiro escorrem cerca de doze mil rios – mais de 70% deles dentro da bacia Amazônica, formando doze bacias hidrográficas e, em seu subsolo, dois aquíferos: Guarani e Alter do Chão, que guardam quase 120 mil quilômetros cúbicos de água.
Nossa civilização reluta em se desfazer do mito da infinita generosidade do planeta Terra. Somente através de uma utilização consciente e sustentável da população, não só do Brasil como de outros países, será possível modificar esta grande crise, que ainda é iminente.

Como o aumento populacional pode ser considerado um fator implicante na redução de água potável por pessoa?
Deon: Atualmente o volume médio de consumo de água pelo brasileiro é de 132 litros por dia. O número de 83 milhões de pessoas adicionais no planeta por ano mostra que é hora de mudarmos os critérios de uso. Começando por uma nova organização na quantidade de água consumida pelos brasileiros, estabelecendo números que venham a ser divulgados através de uma campanha de conscientização.

Que tipo de energia renovável você considera um bom investimento para nosso país? Usar a água como tal não seria uma forma de antecipar sua escassez?
Deon: A China e Estados Unidos estão entre as nações que mais investem atualmente em energia eólica. No Brasil, o cenário é promissor. Os ventos constantes em vários pontos do país e a economia emergente atraíram representantes de empresas estrangeiras fornecedoras de equipamento. Como efeito, 70 novas usinas foram encomendadas em agosto de 2010.
A Agência Nacional de Energia Elétrica aponta para um potencial total de geração no setor de 143 mil megawatts/hora (quase uma vez e meia o consumo nacional), com base em medições da velocidade do vento. A utilização deste recurso seria o suficiente para o abastecimento sem impacto ambiental que as usinas hidroelétricas proporcionam.
Quais medidas financeiras você considera viáveis ao nosso pais para desacelerar a escassez, considerando a quantidade de água que possuímos?
Deon: Tendo em vista que o cenário econômico favorável prevê que, em duas décadas, o consumo de energia será maior que 1.080 tera/watts, o Brasil terá que lidar de forma mais direta com o eterno conflito entre desenvolvimento e problemas ambientais. Com a situação se agravando, a mudança nos hábitos de consumo terá de ser radical.

Você acha que pode haver conflitos com os outros países devido a escassez?
Deon: Água: esse será um dos principais motivos que levarão países e grupos armados a entrarem em conflito nos próximos 25 anos. O secretário-geral da ONU, Ban-Ki-Moon, já divulgou em artigo publicado que em 46 países, onde vivem 2,7 bilhões de pessoas, há alto risco de crises relacionadas à água provocarem conflitos violentos.

Como pode ser explicado o fato de o país ter a maior bacia hidrográfica do planeta e ser abençoado com chuvas tropicais abundantes, mas mal dar conta de abastecer sua população?
Deon: O recurso mais valioso do Brasil é sua água, que será fonte de prosperidade. O grande problema é a distância que nos separa do uso sustentável deste recurso natural. Todavia, já existe tecnologia para alcançarmos um futuro sustentável, o que nos faltam são atitudes conscientes.

Você acredita que as autoridades do Brasil estão realmente mostrando preocupação com a falta de água?
Deon: Não deve ser somente de responsabilidade das autoridades do Brasil, a população deve ser consciente quanto à utilização racional da água potável e no controle do lixo urbano. Muita gente no Brasil ainda usa os rios como lixeiras, descartando tanto embalagens vazias como entulhos, móveis, pneus e até mesmo veículos inteiros.

As taxas cobradas em nosso país, no que se refere à água e esgoto, são adequadas?
Deon: No Brasil cometemos um erro grave: o cidadão que tem esgoto tratado paga mais para a companhia de saneamento. Aplica-se ao esgoto a mesma lógica aplicada a água, e não é assim. Abastecimento de água é um serviço cujo beneficiário é o individuo. A coleta e o tratamento de esgoto são o serviço cujo beneficiário é a coletividade. O tratamento tarifário de um não pode ser o mesmo de outro. Nós induzimos as pessoas a não pensarem no coletivo e temos que corrigir isso.

Por Kassieli Melo

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