quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Água 100% pura não existe mais


Há dez anos, Leonel Brezzolin é responsável pelo tratamento de água em Panambi, Condor, Pejuçara e Santa Bárbara do Sul. Muita coisa mudou nesse tempo; segundo ele, para melhor. A grande maioria da população já está consciente, mas é a minoria que sempre faz os estragos. Apaixonado pelo seu trabalho, Leonel apresenta a unidade de tratamento da água da Corsan em Panambi.

- A água em Panambi é captada do rio Fiúza. Sem tratamento de esgoto, o rio também é o destino dos dejetos. Como a água chega até a unidade da Corsan?
Leonel - Onde nós captamos a água, ela não é tão suja e poluída. Quando entra aqui na unidade, nós precisamos fazer a clarificação e a desinfecção com cloro para eliminar as bactérias. Nós ainda adicionamos flúor à água, para tratar a cárie dentária.
- Mas, e depois, o que vocês fazem com a sujeira que foi retirada da água?
Leonel - Aqui, a água é tratada; após, os restos voltam para o Fiúza. A gente sabe que não é o mais indicado, mas tem um projeto sendo elaborado onde existe a previsão de fazer um espaço de decantação dessa matéria orgânica. Vai existir um depósito e a gente vai poder reaproveitar e dar o destino correto para os restos.
- E nessa captação, qual o nível de coliformes que se encontra na água?
Leonel - Na verdade, como nós captamos a água antes de ele entrar na cidade, pegamos poucas moradias que depositam o esgoto no rio. Claro que a gente encontra coliformes, mas nos últimos dez anos o número reduziu consideravelmente. O rio já foi muito mais poluído, hoje já está bem melhor.

- Você quis dizer que praticamente não existe poluição na captação?
Leonel - Tem sim, é difícil encontrar uma água totalmente limpa, mas é um nível aceitável, pois conseguimos tratá-la. A água passa por dois bairros em Panambi – e, diga-se de passagem, são bairros que parecem mais com favelas – onde nem há previsão de tratamento de esgoto. Então, ela chega, sim, poluída até aqui.

- O plantio direto também contribuiu para a diminuição da sujeira no rio?
Leonel - Com certeza. Tanto que a quantidade de produto que a gente usava na água para clarificação caiu pela metade. A lixiviação – que é como uma lavagem de terra pelas lavouras, que a carrega para os rios – não acontece mais, e, quando acontece, é bem fraca. O homem é inteligente – e isso é uma prova –, pois o plantio direto na palha nas lavouras ajudou muito. Um motivo é que não vem mais tanto barro para o rio, outro é que os venenos e adubos que são usados ficam na lavoura também. Antes tudo isso ia para o rio – o que gerava uma grande poluição.
- Então, a água do rio Fiúza ainda pode ser consumida?
Leonel - Tranquilamente. Mas claro que não dá pra pegar um copo e beber direto do rio, muito menos na nascente. É engraçado, mas antigamente faziam isso, pegavam água direto do rio. Ficam falando por aí que nós, da Corsan, enchemos a água de produtos que causam doenças e daí preferem beber água direto da fonte – um grande erro. Só que as pessoas estão mudando seus pensamentos, estão tomando mais cuidado. Acredito que finalmente estão se conscientizando.


- Então não podemos dizer que existe água 100% pura?
Leonel - Eu não acredito que possa existir. Sem uso de cloro, eu acho muito difícil. Hoje em dia, toda água deve ter tratamento, praticamente não se encontra mais água pura. A nascente precisa estar bem protegida, com mata; não pode chegar animais até lá e até mesmo com o manuseio se pode contaminar. Eu não tomo água tirada de um lugar que eu não conheço a procedência e que as pessoas dizem que é pura.

- Há pouco, o Globo Repórter apresentou uma reportagem mostrando que, no nordeste, as pessoas enchiam garrafas PET com água e as colocavam em cima de suas casas, pois assim, com o calor do sol, elas ficariam puras. O que o senhor acha disso?
Leonel - Isso é uma multiplicação de bactérias! Eles dizem que não tem nenhum problema, mas a gente, que tem um pouco mais de conhecimento nessa área, sabe que é uma baita bobagem! Eu não sei se tomaria aquela água, só pra não morrer de sede mesmo! Isso é uma prática comum lá no nordeste. E por isso, volta e meia, estão com diarréia, devido à contaminação da água. É muito perigoso! Água, hoje, tem que ser tratada para poder ser consumida.

Por Gislaine Windmöller

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