
Quase todas as pessoas estão conscientes sobre a quantidade de água disponível no mundo e sobre as atitudes a serem tomadas para diminuir o desperdício. No entanto, pouco se faz em benefício deste recurso. Às vezes, é necessário expor em números algumas informações para visualizar a real situação da água. O doutor em Economia Internacional, Argemiro Luís Brum, com auxílio dos números, apresenta a situação da água no mundo e no Brasil, em aspectos de quantidade e qualidade:
Como você analisa o patamar atual do consumo de água?
Brum - À medida que o número de pessoas cresce no mundo, a tendência é de aumentar o consumo de água. Porém, como está mal distribuída, quem muito tem geralmente lhe dá pouco valor, gastando além da conta e, principalmente, desperdiçando (lavar carro e calçada com água tratada, por exemplo). Quem pouco tem, encontra dificuldades para recebê-la. No geral, ainda a usamos de forma pouco racional.
Há anos que se fala do esgotamento dos recursos hídricos. Considerando a quantidade de água potável e o consumo mundial, existem previsões de que esses recursos podem acabar?
Brum - Particularmente, não tenho tais previsões. Acredito que o raciocínio seja parecido com o do petróleo. Estamos diante de um bem finito; porém, ninguém sabe ao certo quando ele terminará. Além disso, existem alternativas para o uso racional da água, embora caras (dessalinização da água do mar, por exemplo). O certo é que existem regiões onde a água é escassa e motivo de guerra, e, outras, onde a água ainda é abundante. Neste último caso, a população passa a lhe dar pouca importância, como é o caso do Brasil.
No Brasil e no mundo, onde ocorrem os maiores problemas com a escassez? E qual a quantidade (estimada) de pessoas que ainda não possui acesso à água potável?
Brum - No mundo, as regiões mais desérticas são o norte da África, parte da China, o norte do Chile, parte da Bolívia e Peru, regiões do México e outras onde os desertos já se instalaram. No Brasil, além do nordeste, a região sul começa a enfrentar problema semelhante. Segundo estimativas, em nível mundial, 1,2 bilhão de pessoas (35% da população mundial) não tem acesso à água tratada, e 1,8 bilhão (43% da população mundial) não contam com serviços adequados de saneamento básico. Em consequência disso, aproximadamente 10 milhões de pessoas morrem anualmente em decorrência de doenças intestinais transmitidas pela água. Quanto à disponibilidade de água, no Brasil, existem 40 milhões de pessoas sem abastecimento de água. Além disso, 80% do esgoto coletado não é tratado, o que significa um índice alarmante e preocupante.
Quais são os principais fatores que afetam o abastecimento de água no mundo e no país?
Brum - Em algumas regiões o fator é natural. Simplesmente não há água disponível. Em outras, o fator é econômico. Para se obter água é preciso muitos investimentos em infraestrutura e nem todos os países possuem recursos para tanto. Enfim, em outras regiões temos o fator político. Ou seja, os governantes somente privilegiam o centro dos centros urbanos e os locais onde sua presença política é aceita, deixando de lado todo o resto da sociedade. Há muitos problemas de abastecimento, nos últimos tempos, no meio rural, por exemplo, inclusive no Brasil.
Qual a quantidade de água disponível para cada habitante brasileiro e quanto utilizamos?
Brum - O Brasil é o grande reservatório de água do mundo, pois tem a maior reserva hidrológica do planeta - 11,6% da água doce disponível estão no Brasil, que perfazem 53% dos recursos hídricos da América do Sul. Cada brasileiro possui, em tese, 34 milhões de litros ao ano a sua disposição, um volume enorme, já que é possível levar vida confortável com 2 milhões de litros ao ano, conforme as estimativas da ONU. Mas essa água é mal distribuída: 80% concentram-se na Amazônia, onde vivem apenas 5% dos habitantes do país; os 20% restantes abastecem 95% dos brasileiros. O consumo ideal de água no planeta para cada cidadão, segundo a ONU (Organização das Nações Unidas), considera que o volume de água suficiente para o exercício e manutenção da vida e das atividades humanas, sociais e econômicas, é de 2500 m³ de água/habitante/ano. Em regiões onde a disponibilidade de água/habitante/ano está abaixo de 1500 m³, a situação é considerada crítica. Em algumas áreas críticas, a disponibilidade de água por pessoa, por dia, é de apenas 3 m³. Em nível de Brasil, em algumas regiões do Nordeste a disponibilidade de água é de 3,8 m³ de água por dia. Sendo que a medida de consumo de água/habitante/dia considerada ideal para regiões de clima tropical, que é o caso do Brasil, é de 200 m³.
Por Deisi Fabrim
Edição: Emerson Scheis



Nenhum comentário:
Postar um comentário